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Variedades Sábado, 07 de Dezembro de 2024, 16:16 - A | A

Sábado, 07 de Dezembro de 2024, 16h:16 - A | A

NOVOS MERCADOS

Acordo Mercosul-UE expande agro e atrai investimentos em MT, diz economista

A médio e longo prazo o acordo irá abrir um mercado de mais de 400 milhões de consumidores, principalmente no setor de produtos agropecuários e de etanol

Rdnews

A oficialização do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), anunciada nesta sexta-feira (06), não terá efeito de forma imediata, mas a médio e longo prazo irá abrir um mercado de mais de 400 milhões de consumidores para o Brasil e para Mato Grosso, principalmente no setor de produtos agropecuários e de etanol de cana-de-açúcar e de milho. A análise é do economista Vivaldo Lopes.

O anúncio foi feito pelo ministro da Agricultura e Pecuária Carlos Fávaro (PSD), após a reunião dos líderes dos blocos na cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai. Entre os produtos que terão acesso facilitado ao mercado europeu destacam-se frutas frescas, que terão tarifas eliminadas em até 7 anos; café em diversas formas com tarifas zeradas no mesmo período; e carnes e etanol, que contarão com cotas preferenciais e eliminação gradual de tarifas.

“É uma grande notícia para a economia brasileira e muito positiva para a economia de Mato Grosso. A gente não pode esperar resultados no ano que vem, porque ainda há um longo caminho até ele se tornar assinado mesmo. Agora foi assinado os termos do acordo negociado entre a União Europeia e os países do Mercosul. O passo seguinte é esse acordo ser validado e homologado pelos 27 países que compõem a União Europeia. O acordo terá que ser também ratificado por cada um dos parlamentos dos 27 países e, no caso dos países do Mercosul também. Isso deve demorar no mínimo seis, nove meses”, esclarece Vivaldo.

O economista avalia que a resistência comercial de alguns países pode deixar esse processo ainda mais demorado, já que o ritmo será ditado por cada país. “Tem países que têm posições conhecidas contra o acordo, como o caso da França, Holanda, Polônia, Itália e Irlanda. No caso da França, os agricultores lá estão contra o acordo porque temem que os nossos produtos agrícolas vão chegar mais baratos do que os deles”, explica.

Abertura de mercado

Com o fim do processo de homologação, os efeitos serão representativos. “É muito expressivo o mercado que se abre para os produtos brasileiros. No caso do Mato Grosso, vamos poder exportar sem nenhuma tributação adicional os produtos que já exportamos para o mercado europeu. Dos 27 países, alguns já compram da gente, outros não, mas mesmo os que compram, depois de ratificado o acordo, Mato Grosso vai poder exportar para lá sem tarifas adicionais”, aponta.

No caso da carne bovina, o acordo estabelece quotas de 99 mil toneladas com tarifas reduzidas para 7,5%. Já o etanol terá quotas de 650 mil toneladas, sendo 450 mil destinadas à indústria com tarifa zero, o que impactará diretamente no setor. Hoje Mato Grosso é o segundo maior produtor de etanol no Brasil. A abertura de mercado vai acompanhar as estimativas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e das Indústrias de Bioenergia do Mato Grosso (Bioind-MT), que prevê a produção de 12 bilhões de litros de etanol por ano em dez anos, chegando a ser o maior produtor do Brasil.

“O acordo prevê que o etanol de cana-de-açúcar e de milho do Brasil possa ser vendido na União Europeia sem tem tarifas adicionais de importação. Isso abre um mercado muito grande para o etanol de Mato Grosso. Então abre caminho para as nossas comodities agropecuárias, mas abre caminho também para Mato Grosso vender produtos industrializados”, pontua.

No entanto, Vivaldo reforça que esses efeitos serão sentidos a médio e longo prazo. A curto prazo, o economista avalia que o impacto será atrair maior interesse de empresas e bases produtivas em Mato Grosso.

“Como as empresas montam suas bases produtivas olhando a longo prazo, eu vejo que em 2025 e 2026, esse acordo vai estimular já a entrada de investimentos produtivos no Brasil e em Mato Grosso. Empresas vão ver que mesmo que demore um ano ou dois anos para terminar essa rota toda de homologação, em 2027, 2028, esse mercado vai estar aberto”, afirma.

Vivaldo estima que isso aconteça antes da homologação final, na medida em que os analistas, bancos e financiadores das grandes empresas percebam a tendência da abertura.

“Na minha leitura, o anúncio do acordo, que agora tem que caminhar um longo processo tecnocrático e depois de validação política, já abre espaço para investidores montarem fábricas, avançarem seus investimentos no Brasil e em Mato Grosso”, completa.

Impacto das eleições dos EUA

O acordo é complexo e atualmente, o maior. As negociações começaram em 1999 e só agora foram finalizadas. O especialista destaca que houve o mérito do atual presidente Lula (PT) em conseguir finalizar esse acordo, mas acredita que essa assinatura foi acelerada nos últimos meses pela eleição de Donald Trump no Estados Unidos.

“A maior explicação política que eu vejo para acelerar e anunciar isso agora é fazer tudo isso antes da posse do Trump, porque com a posse, ele dificultaria ainda mais. Então, tem um empurrão, que é o medo das políticas nacionalistas que devem ser tomadas pelo presidente Trump, que vai afetar tanto a Europa, quanto a China e o Mercosul”, pontua.

Protecionismo europeu

Na avaliação do economista, a resistência europeia aos produtos agropecuários brasileiros deve continuar nos próximos anos, mesmo com a assinatura do acordo, tantos pelas barreiras comerciais quanto ambientais.

“Essas barreiras ambientais que estão colocando para a produção do Brasil e de Mato Grosso, uma parte é de preocupações legítimas, outra parte é barreira comercial mesmo. A barreira comercial vai ser retirada com a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia, já as barreiras ambientais podem até ser reduzidas um pouco, mas vão continuar na pauta. Os países que vão importar da gente, como França, Holanda e Alemanha, vão continuar exigindo práticas ambientais de alta qualidade”, analisa.

Pelo menos nos próximos dois anos, Vivaldo acredita que essa será uma questão que continuará pautando as discussões entre as relações o Brasil e a União Europeia.  

“Países como Holanda e Irlanda, especialmente Polônia, Holanda e França, vão continuar resistindo à entrada de produtos agropecuários nossos, porque lá os agricultores têm muita força de mobilização. E eles também têm pouca competitividade com a produção brasileira. Então, elas continuarão, especialmente nos anos antes de validação final do acordo”, conclui.

 

euni�o de negocia�es do Acordo Mercosul - Uni�o Europeia

Chefes de Estado do Mercosul e a representante da União Europeia (UE) em reunião de negociações

 

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